quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ladrão de Casaca

( EUA 1955 ). Direção: Alfred Hitchcock. Com Cary Grant, Grace Kelly, Jessie Royce Landis, Brigitte Auber, Charles Vanel, John Williams, Georgette Anys. 106 min.


Sinopse: Famoso ladrão de jóias, atualmente "aposentado", é perseguido pela polícia quando é acusado de ser o principal suspeito de uma nova onda de roubo de jóias. Tenta descobrir a identidade do verdadeiro criminoso, enquanto foge, e se envolve com bela mulher.

Comentários: Um dos filmes mais diferentes do grande mestre Hitchcock, Ladrão de Casaca é um suspense bastante humorado. Aqui, os instantes de tensão são substituídos por momentos de refinado humor, ainda que com boas sequências de perseguição. Cary Grant continua esbanjando seu charme, ainda que na época já tivesse 51 anos. E forma uma dupla perfeita com uma das estrelas favoritas de Hitchcock, a futura princesa de Mônaco Grace Kelly, que esbanja talento, beleza e, naturalmente, sua habitual elegância, já que aparece vestida com luxuosos figurinos. A cena de maior impacto é quando Grace dirige seu automóvel em alta velocidade, tentando despistar a polícia, ao lado de um amedrontado Cary Grant, que tenta disfarçar o seu medo perante essa situação. Com Ladrão de Casaca, sem dúvida, sentimos falta de momentos mais macabros e assustadores, existentes na maioria dos filmes do mestre. Além disso, o roteiro de John Michael Hayes (adaptado do livro de David Dodge), não fornece chances para cenas mais assustadoras, como àquelas existentes em filmes como Disque M Para Matar ou Janela Indiscreta (ambos com Kelly, inclusive), e as cenas de maior suspense são algumas de perseguições, como a já mencionada anteriormente. E, por fim, o final é fraco. Em todo caso, a direção de Hitchcock permanece segura e intacta, a dupla central tem química perfeita e a fotografia é deslumbrante. Sem dúvida, um ótimo entretenimento. Indicado a três Oscar, ganhou melhor fotografia, e foi indicado ainda para direção de arte e figurino.

Por que gravei o filme: Sem dúvida porque é um filme de Hitchcock. Este não é dos meus filmes favoritos, mas qualquer produção assinada pelo grande mestre do suspense, bem-sucedida ou não, é indispensável na coleção de qualquer cinéfilo. E Cary Grant e Grace Kelly formam sempre uma dupla digna de ser assistida. O único problema é que foi gravado no excelente Retro Channel, que apresenta um único defeito: o ruim sistema de legendagem. Mas não atrapalha muito, e dá para assistir à esse bom clássico.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Gangues de Nova York

( EUA 2002 ). Direção: Martin Scorsese. Com Daniel Day-Lewis, Leonardo DiCaprio, Cameron Diaz, Jim Broadbent, Henry Thomas, John C. Reilly, Brendan Gleeson, David Hemmings, Liam Neeson. 166 min.

Sinopse: No século XIX, em Nova York, duas gangues rivais se enfrentam: Os Nativistas e os Coelhos Mortos, liderados por um padre e com participação das massas carentes. O líder dos nativistas, corrupto e cruel, assassina o líder da outra gangue. Anos depois, o filho do assassinado, de descendência irlandesa, resolve se vingar e reorganiza a gangue.

Comentários: Super-produção da Miramax indicada a dez Oscar: filme, diretor, ator (Daniel Day-Lewis), roteiro original (de Jay Cooks, Steven Zaillian e Kenneth Lonergan), fotografia, figurino, direção de arte, montagem, som e canção, mas não ganhou nada. A maior surpresa, entretanto, foi a não premiação de Martin Scorsese como melhor diretor de 2002, já que essa categoria era uma das únicas que o filme disputava como favorita. Quem ganhou, na ocasião, foi Roman Polanski, por "O Pianista", aliás, outro cineasta normalmente esquecido pela Academia. Na verdade, Scorsese era o favorito na categoria, não exatamente pelo filme, mas sim pelo conjunto da obra, já que ele é um grande cineasta e nunca tinha sido premiado pela academia. E certamente, o famoso diretor de "Taxi Driver - Motorista de Táxi"e "Os Bons Companheiros" fez filmes melhores antes de "Gangues", e também depois (O Aviador, Os Infiltrados). Ou seja, o Oscar não surgiu na hora errada. Em relação ao filme, Gangues de Nova York trás um eficiente trabalho de direção de arte, na reconstituição da Nova York dos anos mil e oitocentos, com bons figurinos e fotografia. O roteiro é inspirado em fatos que marcaram a história nova-iorquina, e oferece cenas bem violentas e sangrentas. Daniel Day-Lewis também era favorito no Oscar (e também perdeu por um ator de "O Pianista", Adrien Brody), e está muito bem como o vilão Bill Cutting, bem sádico e sanguinolento (além de assassino, o personagem é açougueiro). Ele está um tanto irreconhecível com bigodão, e um pouco exagerado em algumas cenas. Leonardo DiCaprio se consagrou em 2002 como um dos atores mais detestados pela academia de artes e ciências cinematográficas, que não indicou o rapaz ao Oscar. Num ano em que ele se destacou em dois filmes (o outro é Prenda-me se For Capaz, de Spielberg), Leonardo demonstrou que realmente é um bom ator (apesar da voz um tanto enjoada), e merecia uma indicação. E a bela Cameron Diaz, no papel de uma ladra trapaceira, surge como a moça dividida entre os dois astros centrais. Scorsese fez em seu filme uma analogia às guerras da era Bush, ao mostrar, paralelamente entre as brigas de gangues, o alistamento obrigatório para a guerra civil do governo Lincoln. O que se destaca na cena, é a resistência dos pobres, que organizam passeatas e tentam fazer valer o direito de não irem para a guerra. Claro que as conseqüências disso são lamentáveis e desfavoráveis às classes mais baixas (sobretudo, aos negros). Enfim, Gangues é um filme que denuncia a guerra e o racismo (os irlandeses imigrantes também são vítimas da intolerância racial), mas sem ser anti-patriota. Afinal, na conclusão, Nova York é consagrada e enaltecida, vista como um local que, apesar das sangrentas batalhas, conseguiu se recompor e se tornou uma das cidades mais ricas do mundo. E é também um filme que tem como ideal a justiça com as próprias mãos: ou seja, o herói sofre bastante, inocentes morrem, ficamos com ódio de Day-Lewis que está sempre por cima... mas, no final, os vilões pagam caro por suas maldades. Concluindo, Gangues é um bom filme, mas não excelente, bastante arrastado, longo, violento, confuso e sem grandes surpresas.

Por que gravei o filme: Admiro o conjunto da obra de Martin Scorsese, por isso gravei o filme no Max Prime. E mesmo não sendo o meu filme favorito de Scorsese, gostei da mensagem que a fita acabou trazendo (mesmo sem saber se foi ou não intencional) contra as guerras. E os atores estão competentes nos papéis, até mesmo Liam Neeson, que tem participação pequena como o padre que lidera a "gangue do bem" na primeira parte do filme. E, por fim, o filme se sustenta como um bom épico de aventura, com cenas de batalha bem elaboradas, e garante o entretenimento.