sábado, 28 de dezembro de 2013

O Hobbit: A Desolação de Smaug

 Bom, tomei o máximo de cuidado para não repetir aqui as mesmas impressões do primeiro Hobbit. Por isso, reli a minha postagem sobre o anterior, para lembrar de alguns detalhes, e não repetir o que já foi colocado (por exemplo, ao sair da sala de cinema já tive o impulso de escrever que Martin Freeman nasceu para fazer o personagem título, coisa que eu já havia explicitado anteriormente). Dessa vez, não me preocupei em assistir em sala IMAX, nem na versão 48 fps, vi em uma sala comum no formato 3D mesmo. E saí de lá satisfeito com o resultado, e aliviado por não ter acontecido duas situações que eu previa, mas que depois falarei melhor.

 Quanto a sinopse, o hobbit Bilbo e os anões continuam em sua jornada para reaver toda a riqueza roubada pelo dragão Smaug. Passam por diversas aventuras ao entrarem em uma perigosa floresta, são surpreendidos pelos horrendos Orcs, com quem duelam, e como se isso ainda não fosse o bastante, também precisam se livrar de elfos que encontram pelo caminho. Mesmo assim, persistem no objetivo inicial, e seguem caminho. Não quero revelar mais para não estragar. Essa sequência possui detalhes que, creio eu, não possam ser revelados para não prejudicar o prazer de se assistir essa produção na tela grande.

 Sim, confesso que gostei muito dessa sequência, e supera o original. Os meus receios eram os seguintes: 1) Trata-se da segunda parte de uma trilogia. O livro, como todas sabem, é curto. E, normalmente, tal como sucedeu com "As Duas Torres", de O Senhor dos Anéis, a tendência é deixar a segunda parte arrastada e cansativa; e 2) Achei algumas cenas de luta de "Uma Aventura Inesperada", óbvias e excessivamente cansativas. Por isso, esperava o pior. Surpreendentemente, entretanto, e felizmente, estava errado. A Desolação de Smaug, afinal, é daquelas produções que segura o espectador do começo ao fim, raramente cansa, e os momentos de batalhas são de deixar o mais criterioso fã do gênero satisfeito com tudo o que se sucede. Duas das melhores cenas são a fuga dos anões dentro de barris pela correnteza (em que se destaca, ainda que só nesse momento, o anão ruivo feito por um certo Stephen Hunter. O personagem poderia ser melhor explorado como alívio cômico, aliás...), e obviamente, o confronto com o dragão. Evidentemente, esse momento clímax é bastante longo e impressionante em todos os detalhes. O que posso dizer é que o danado, literalmente, solta fogo pelas ventas, e não está mesmo para brincadeira. A novidade foi colocar um dos astros do momento, Benedict Cumberbatch (de "Cavalo de Guerra" e "Além da Escuridão -Star Trek"), que está em tudo quanto é filme ultimamente, na voz de Smaug.

Isso tudo é mérito do time de roteiristas comandados por Pete Jackson, os mesmos da trilogia, a esposa Fran Walsh, o cineasta amalucado Guillermo del Toro, mais Philippa Boyens, que tiveram o cuidado e a inteligência de superar Uma Viagem Inesperada, com todos esses grandes momentos de ação. E, diga-se de passagem: tudo o que se espera de uma produção com a grife Peter Jackson está lá. De olho no Oscar, certamente a película será indicada nas categorias que se referem ao som, essa é a grande barbada! Terá chances também na trilha sonora, na excelente fotografia, direção de arte, maquiagem, e em menor escala, na montagem, que é competente, mas não está entre os favoritos. E, desculpem ser mais uma vez repetitivo, Jackson dirigiu no passado "Trash - Náusea Total"! Inacreditável.

 Ainda sobre o roteiro adaptado do universo de J.R.R. Tolkien (que também não terá chance no Oscar, uma pena!), escutei alguns comentários negativos de "tolkienianos" fanáticos, que se posicionaram contra algumas modificações. Oras, cinema e literatura são duas manifestações com linguagens diferenciadas. Muitas vezes, para se concretizar uma obra satisfatoriamente, existe a necessidade de se fazer algumas atualizações. Eu, embora já tenha lido o livro nessa altura do campeonato (ainda que na versão de português de Portugal, emprestado pelo meu amigo Rafel), considero-me leigo no que se refere à obra de Tolkien. Ainda assim, arrisco dizer que a adaptação para as telas beira a perfeição (claro, sem considerar o episódio final que só estreia daqui um ano). Apenas não me recordo do personagem Bard (interpretado por Luke Evans, de "Imortais" e "Velozes e Furiosos 6"). Acho que tal personagem ganhou muito destaque na tela, com núcleo próprio, afinal, mostra-se onde vive com as filhas e o filho, numa cidade que lembra uma espécie de "Veneza dos pobres", e com o risco de sofrer a ira de Smaug no próximo filme (seria spoiler, isso?). Esse, talvez, seja o momento mais cansativo da projeção, mas não compromete, afinal. Todavia, a grande reclamação dos "tolkienianos" é o fato de que na obra não há personagens femininos (ainda que, enquanto lia o livro, imaginava as aranhas como fêmeas, portanto "mulheres", hehehe). E aqui, nós temos a elfa Tauriel, interpretada por Evangeline Lilly (a Kate da série "Lost"). Eu achei oportuna a participação dessa personagem. Afinal, aguentar quase três horas sem nenhuma mulher em cena é sofrível! E, apesar de enxergar a guerreira elfa em atrizes como Jennifer Garner ou Kate Beckinsale, Lilly defende bem a personagem, e pode ser que consiga mais prestígio no cinema. Por outro lado, achei desnecessário, e até bizarro, a possibilidade (ALTA) de interesse romântico entre ela e um anão chamado Kili (interpretado por um certo irlandês chamado Aidan Turner, que eu nem lembrava do anterior). Enfim, tentam colocar o cara como galã, na verdade inexpressivo e sem graça. Seria melhor colocar então o Richard Armitage, que já tinha pretensões de "anão galã" (ele faz o líder Thorin), o que comprometeria menos. Aliás, unir amorosamente uma elfa com um anão seria uma proposta do politicamente correto? Uma mensagem subliminar para se aceitar as diferenças entre as raças? Enfim...

 Quanto ao elenco, além dos mencionados, sinto falta de Christopher Lee (Saruman), o melhor ator do anterior, e também de Hugo Weaving (Elrond) e, evidentemente, Cate Blanchett e sua Galadriel. Cate, ao menos, tem uma rápida ponta, e uma deixa para participação maior no próximo episódio (espero! Afinal, querem colocar mulher em cena, e se esquecem dela? Simplesmente a melhor atriz do ano!). Ah, sim! Nada de Smeagol também... Mas ainda temos Ian McKellen, sempre magnífico como Gandalf, Martin Freeman (desculpa, mas tenho que dizer: NASCEU MESMO PARA SER HOBBIT, não há escolha melhor!), Lee Pace (de "Lincoln") como Thranduil, o "deus" dos elfos, ou coisa que o valha (gosto desse ator, marca presença, e tem possibilidades de se tornar astro) e o britânico Stephen Fry, numa discreta participação como "Master of Laketown", a saber, o mestre da "Veneza dos Pobres". Ah, e aqui, temos o retorno de Orlando Bloom, e seu personagem Legolas da trilogia dos anéis, um ator que particularmente não gosto, acho canastrão e caricato. 

 Enfim, uma superprodução com S maiúsculo, eletrizante, espetacular, ousado e grandioso. Termina de forma satisfatória, deixando o espectador contando os dias para a próxima estreia (foi bem superior ao término da segunda parte de "Jogos Vorazes", esse sim, arrastado e manipulador). Espero mesmo que Jackson feche a trilogia com chave de ouro, e entregue no próximo ano um esplêndido trabalho, como fez agora. Se conseguir a mesma repercussão que o fecho da trilogia dos anéis, "O Retorno do Rei", o que eu acho bem difícil, seria maravilhoso. Em todo caso, sem grandes pretensões, conseguindo o mesmo resultado com essa obra do meio, já está excelente. Bem-vindos a essa grande aventura!

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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Questão de Tempo

 Uma boa pedida para cinema em épocas natalinas é este Questão de Tempo, dirigida e roteirizada pelo mesmo diretor de "Simplesmente Amor", Richard Curtis. Trata-se de uma história leve, delicada, sensível e engraçada, daquelas capazes de deixar o espectador feliz da vida, ao término da sessão.

 A história, definitivamente, não é nada original. Afinal, o tema "de volta para o passado" já foi explorado diversas vezes. Todavia, não vejo nada tão ousado ou curioso dentro do tema, desde a comédia "Feitiço do Tempo", de 1993. Bom, o enredo: o jovem britânico Tim (o ruivo Domhnall Gleeson, de "Bravura Indômita" e "Harry Potter -  As Relíquias da Morte 1 e 2"), ao completar 21 anos, recebe uma  notícia de seu pai (o veterano Bill Nighy, que também esteve em "Simplesmente Amor"), de que a família tem o dom de voltar ao passado. Basta apenas ir para um lugar escuro, deixar o pulso ereto, e se concentrar para a época que se quer voltar. Sabendo disso, o rapaz tira proveito da situação e volta para fazer coisas que não tinha realizado no passado. Até que uma americana (a estrela Rachel McAdams) cruza sua vida, e ele se apaixona por ela. Claro que ele usa o "tempo" a seu favor, para descobrir informações sobre a garota...

 Questão de Tempo é daqueles filmes repletos de canções, e faz o público se entregar e se envolver com a história e seus personagens. Nem se vê a duração da película (e olha que passa dos habituais 120 minutos, algo típico do diretor), por conta da história cativante. O aspecto mais criativo, certamente, foi o de não se explorar constantemente a "máquina do tempo", para com isso, não correr o risco de cair no lugar comum, com piadas óbvias e previsíveis. Ao contrário, Curtis deixa o romance dos protagonistas florescer naturalmente, e registra desde o instante em que se conheceram, até se casarem e terem filhos, deixando um pouco de lado o dom do rapaz. Claro que, com o passar dos anos, às vezes se faz necessário recorrer à viagem ao passado, para corrigir coisas desagradáveis. O fato é que a mensagem de se aproveitar a vida em todos os seus aspectos é, apesar de passar uma ideia piega, bastante oportuna e desenvolvida com muita humanidade e satisfação.

 O elenco está espetacular, e outra ideia interessante foi colocar em cena um casal não especialmente bonito para encabeçar esse magnífico conto. McAdams parece ser a estrela ideal para esse tipo de filme, já que tem no currículo outras obra sensíveis como "Te Amarei Para Sempre" e "O Diário de Uma Paixão". E forma uma dupla interessante com o desconhecido Gleeson (filho do veterano Brendan Gleeson), numa interpretação, ao mesmo tempo, tocante e divertida. E os coadjuvantes brilham também, sobretudo o pouco conhecido Richard Cordery (de "Os Miseráveis") como o tio do protagonista, a jovem Lydia Wilson (de "Não Me Abandones Jamais") como a irmã, a novata de carreira promissora, muito atraente, Margot Robbie (que também está em "O Lobo de Wall Street", do Scorsese) no papel da amiga da irmã por quem Gleeson se sente balançado, a veterana Lindsay Duncan como a mãe, e principalmente o extraordinário Bill Nighy, como o pai. Tem-se falado pouco sobre as chances do filme concorrer em alguma categoria para o próximo Oscar, mas se houvesse justiça, Nighy concorreria como coadjuvante, em um grande momento nas telas.

 Enfim, tudo funciona: elenco, roteiro, fotografia, direção de arte... Tudo magnífico. Um bom fecho de ano para quem procura uma história bem contada, sensível e com descontraídos momentos de humor. Daquelas produções que te faz refletir sobre a vida, e correr atrás do tempo perdido sobre algo não resolvido. Vale a pena experimentar!

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domingo, 15 de dezembro de 2013

Carrie - A Estranha (2013)

 Como tornou-se moda refilmar filmes famosos de terror nos anos 70 e 80, agora aconteceu com esse remake de um clássico do gênero de terror, que havia sido dirigido por Brian DePalma em 1976, e foi responsável por colocar no mapa os nomes de Stephen King, Sissy Spacek, John Travolta e do próprio DePalma. A diretora da vez é Kimbery Peirce (de "Meninos não Choram").

 Creio que o filme seria mais interessante se fosse feita uma nova leitura do popular livro do Stephen King, com momentos inéditos, não explorados pelo filme de DePalma, nem pela versão feita para tv em 2002. Contudo, o roteiro de Lawrence D. Cohen e Roberto Aguirre-Sacasa, prefere seguir a risca o filme de 76, mais que o livro. Ou seja, com algumas atualizações para o nosso tempo (com direito a tablets e sites de relacionamentos) e com algumas alterações em cenas, trata-se praticamente de uma xerox do original.

 Para quem não conhece ainda a história, vamos lá. Carrie White é uma garota reprimida pela mãe fanática religiosa, e é vítima de bullying na escola. Após ter sua primeira menstruação no chuveiro do colégio, é vítimas das brincadeiras de mal gosto das garotas. Uma delas, Sue Snell, contudo, se arrepende da brincadeira de mal gosto, e para se redimir, pede para o próprio namorado, Tommy Ross, convidar Carrie para o baile. A garota acaba por aceitar, contrariando a vontade da mãe, e vai para o baile onde a vingativa Chris Hargensen prepara algo terrível contra a garota. O que ninguém imagina, todavia, é que Carrie tem poderes telecinéticos, e se vinga de todos que a humilharam, num verdadeiro banho de sangue em que até os inocentes são punidos.

 O problema do filme é que sentimos constantemente a falta da mão experiente do talentoso DePalma, com sua típica linguagem cinematográfica: a trilha sonora angustiante, a divisão da tela em partes, a câmera lenta nos momentos mais arrepiantes... Tudo isso faz falta! As cenas de morte, por outro lado, são mais detalhadas. Porém até isso, emburrece! A cena em que Carrie se  vinga de Chris é longa demais e nada interessante. Aliás, a atriz que interpreta a vilã, uma certa Portia Doubledday (de "Vovó Zona 3"), é muito ruim e feia, fazendo os saudosistas sentirem falta da intérprete original, Nancy Allen.

 Falando nisso, no elenco a já popular e veterana garota Chloe Grace Moretz, após chamar a atenção da crítica e público no terror sobre uma vampira mírim, "Deixe-me Entrar", não faz feio e segura bem o papel. A excelente Julianne Moore interpreta a mãe fanática, em mais um bom papel e com maquiagem pesada, e outra boa atriz, Judy Greer (de "Os Descendentes") faz a professora de educação física, que defende Carrie. Há também uma garotada atraente nos outros papéis,Gabriella Wilde como Sue, Ansel Elgort como Tommy, Alex Russell como Billy... etc.

 No fim das contas, não é um filme ruim. Mas exaustivamente lento para quem conhece o original de letra. Nem mesmo as atualizações chamam a atenção. Apenas me irrita o fato de ter assistido ao filme em sua versão dublada. Pelas barbas do profeta: Por que essa moda infeliz de dublar tudo que é filme ? Quase não há mais produções originais com legendas em português! Isso aborrece ainda mais o passatempo... Abraços!

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sábado, 7 de dezembro de 2013

Crô - O Filme

 Ultimamente tem se tornado comum adaptar personagens que marcaram nas novelas para o cinema. É o que sucede aqui, com a comédia Crô. Quem não lembra, Crô era o mordomo afeminado da perua socialite Thereza Cristina, interpretada por Christiane Torloni, na novela "Fina Estampa", de Aguinaldo Silva, que aqui, obviamente, é o autor do roteiro.

 Bom, Crô tem berço, é de família rica, mas desde pequeno sabia que seu "dom" era o de servir a "deusas chiquérrimas e maravilhosas". Justamente por isso, ele resolve fazer uma seleção para escolher a "madame" de quem ele cuidará e obedecerá por toda sua vida. Entretanto, um inescrupuloso casal, que trafica mulheres e crianças bolivianas para trabalhar com costura, armam plano diabólico para fazer com que a escolhida seja a perigosa Vanusa.

 Dirigido pelo veterano Bruno Barreto, Crô diverte e arranca gargalhadas da plateia, por conta dos trejeitos de seu protagonista, mais uma vez interpretado pelo bom ator Marcelo Serrado. Entretanto, as piadas não seguram o filme, e o público conclui que o personagem era muito mais engraçado na tv, do que no cinema. O que acaba atrapalhando também, é a introdução de personagens vilões (feitos por Milhem Cortaz, o eterno Capitão Fábio de "Tropa de Elite" e Carolina Ferraz), e um contexto de tráfico bastante dramático para estar inserido numa comédia, que deveria ser leve e divertida. Os próprios vilões têm cenas cômicas, mas a perversidade cometida por eles com uma garotinha boliviana (a estreante Urzula Canaviri) atrapalha o tom, e gera até revolta no espectador. Por outro lado, para contribuir ainda mais com o humor, outros empregados da telenovela surgem para auxiliar Crô: a faxineira Marilda (Kátia Moraes) e o motorista Baltazar (Alexandre Nero), este roubando a cena como o serviçal homófobo.

 Ainda no elenco, participações de Ivete Sangalo (como a mãe de Crô), a veterana Karin Rodrigues, no papel de outra socialite que disputa os serviços do refinado mordomo, e Gaby Amarantos e Ana Maria Braga interpretando elas mesmas. Enfim, o filme diverte e torna-se um passatempo descontraído. Infelizmente, por conta das limitações do roteiro, é facilmente esquecível. Em tempos de "Félix", quem sabe outro personagem popular do público invada as telas de cinema. Talvez essa não seja uma boa ideia. Abraços!

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