segunda-feira, 21 de abril de 2014

Confia em Mim

 Uma sugestão bem alternativa para quem gosta de produções nacionais é justamente esse Confia em Mim, a esteria em longas do cineasta Michel Tikhomiroff. A grande novidade é que se trata de uma história de suspense, algo fora do comum no cinema brasileiro.

 O roteiro, escrito por Fábio Danesi, não nega inspiração em filmes do mestre Hitchcock, e o filme não é tão surpreendente, se compararmos com outras produções americanas do gênero. Ainda assim, está acima da média, e tudo é feito redondinho e com um bom desfecho.

 Quanto a história, a chef de um restaurante Mariana (Fernanda Machado, de "Tropa de Elite"), após um longo dia de trabalho, vai com a amiga para um barzinho e conhece o sedutor Caio (Mateus Solano). O clima esquenta, ambos começam a namorar e até passam a morar juntos. O sonho tende a virar pesadelo quando Caio sugere que Mariana peça dinheiro emprestado para a própria mãe, que é rica, com o intuito dela mesma abrir um restaurante. Ela age dessa forma, confia o dinheiro e a parte burocrática nas mãos do namorado, e se surpreende quando ele desaparece de vez do mapa. A partir de então, ela tenta descobrir o paradeiro dele, enquanto tenta conviver com o fato de ter sido enganada.

 Ou seja, não há nada mais preocupante, principalmente para nós brasileiros, de sermos passados para trás e "entrarmos bem" após um investimento furado como esse que a protagonista passa. Não há como ficar indiferente aos problemas que ela passa, mesmo porque é muito fácil se sentir na pele dela. Há algumas reviravoltas e surpresas interessantes, e um excelente clima de suspense que deixa o espectador instigado até a conclusão, que termina de forma satisfatória (desculpe o spoiler).

 Tudo poderia dar errado se o diretor não tivesse sabedoria na hora de escolher seus protagonistas. Afinal, tanto Fernanda quanto Mateus estão esplêndidos e convincentes em seus papéis nesse embaraçoso jogo de gato e rato. Mateus, aliás, por conta da popularidade de seu recente personagem Félix, da novela "Amor à Vida", é o tipo de ator que consegue arrastar uma boa bilheteria. O que acaba sendo engraçado, e ao mesmo tempo constrangedor, é a ideia de que os trejeitos do efeminado Félix persistem no Caio, que não tem nada de homossexual. Isso apenas demonstra o quanto Mateus ficou marcado com o carismático vilão da novela. E os coadjuvantes ajudam em cena, como a pouco conhecida Fernanda D´Umbra, no papel da amiga Tereza (e responsável pelo alívio cômico) e Bruno Giordano, no papel do detetive Vicente, que se solidariza com a personagem de Fernanda (um fato bastante inusitado é termos aqui um policial que se entrega de corpo e alma ao caso, algo muito distante da realidade brasileira.)

 Enfim, recomendo este suspense com muito estilo e com uma característica bem brasileira. Afinal, se o mercadão americano de blockbusters possui muitas produções do gênero, nenhuma dela se compara com as características dessa estreia promissora do diretor Michel. Pague pra ver e divirta-se!

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sábado, 19 de abril de 2014

Capitão América: O Soldado Invernal

 Como era previsto, e como se preza com qualquer popular super herói da Marvel, há a necessidade de uma sequência do filme original. E é justamente o que sucede aqui com O Soldado Invernal, dessa vez comandada pelos irmãos Anthony e Joe Russo (de "Dois é Bom, Três é Demais"). 

 O que temos aqui é tudo aquilo que se espera de uma super produção de fitas de ação: duração que ultrapassa os habituais 120 minutos, efeitos técnicos e sonoros de última qualidade, cenas de lutas e ação esplêndidas e vilões odiosos.Diferente do original de 2011, dessa vez os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely concentraram a ação para os dias de hoje, e colocaram o Capitão América, em esplêndida forma, tentando derrotar o vilão da vez que, óbvio, pretende dominar o mundo. Há, inclusive, um momento bastante nostálgico em que o herói visita uma museu exclusivo sobre o Capitão América, e assiste uma palestra sobre a ação dele na época do nazismo. Outro momento marcante é quando ele visita a já idosa Peggy Carter (um trabalho muito bem feito que envelheceu a jovem Hayley Atwell, que dessa vez tem apenas uma cena), em seu leito.

 Quanto a ação, tirando o fato de se passar na atualidade, não há muita novidade. As cenas de ação, inclusive, ora cansam, ora impressionam, o que demonstra que, com o tempo, a originalidade das lutas já está por um fio (em todos os filmes do gênero, na verdade). No entanto, há um prólogo bastante divertido e bacana, com o América fazendo um cooper, ao lado de um simpático rapaz, que se transformará no herói Falcão na metade da fita. Ele é interpretado pelo negro Anthony Mackie (de "Menina de Ouro" e "Guerra ao Terror"), que ainda não é astro, mas certamente se tornará; afinal, ele rouba a cena, e ganha a simpatia da plateia. Na verdade, junto com Mackie, Samuel L. Jackson, que retorna como Nick Fury (aliás, a melhor cena de ação é protagonizada por ele em um carro que está prestes a ser distruído pela polícia), a bela Scarlett Johansson que entra em cena com sua Viúva Negra (ou Natasha Romanoff) e o veteraníssimo Robert Redford, em grande forma aos 77 anos, como o vilão Alexander Pierce, garantem mais o interesse do que o herói feito por Chris Evans, bastante apático, previsível e sem graça. Ainda no elenco, a canadense Cobie Smulders (de "Os Vingadores") atua na pela da agente Maria Hill (aliás, há muitas personagens femininas no filme, que não levam desaforo pra casa), Sebastian Stan, que agora, numa curiosa caracterização, "mudou de lado" e deixou de ser o melhor amigo de Steve Rogers, para ser o vilão Winter Soldier, e Frank Grillo (de "A Hora Mais Escura" e "A Perseguição") como o vilão mais fiel de Redford.

 Há algumas surpresas e reviravoltas na história (sobretudo por conta do personagem de Jackson), e o interesse se mantém graças a isso. Caso contrário, seria apenas mais uma mera sequência de ação, com o único cuidado de ter mais momentos de adrenalina. Enfim, os irmãos Russo, no fim das contas, realizaram um trabalho satisfatório. Ah, e como de rotina, há mais uma sequência após os letreiros finais, legal e surpreendente, que deixa o espectador curioso para assistir ao 3° episódio. Vale conferir. Abraços!

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terça-feira, 8 de abril de 2014

Noé

 Mês de semana santa e páscoa, normalmente, trás algum filme focado nesse contexto para as telas de abril. Esse ano é o blockbuster hollywoodiano Noé, comandado pelo diretor Darren Aronofsky (de "Cisne Negro"). Nas semanas de estreia, mesmo nas segundas-feiras, as filas são quilométricas. Por isso, vai o conselho de se comprar o ingresso antecipadamente.

 O ponto de partida qualquer um que algum dia fez catecismo, ou que seja membro de família cristã já conhece (aliás, Noé é um personagem batante popular até mesmo para quem é ateu!). Ou seja, Noé recebeu um chamado de Deus para construir uma gigantesca arca, colocar nela um par de animais de cada espécie, além dele próprio e sua família. Afinal, Deus (sempre mencionado como "o criador"), entristecido com a humanidade, resolver fazer um dilúvio e destruir todo mundo! Claro, com a exceção de Noé e sua família. No entanto, há pessoas que farão de tudo para conseguir mais uma vaga para entrar na arca.

 Antes de mais nada, desde o começo da produção, já havia ficado bem claro que não se trata de uma reprodução literária da passagem bíblica que se fala de Noé. Mesmo porque a película tem quase 2 horas e 20 minutos de duração, e na passagem não há tanto elemento que preencha essa mentragem extensa. Por isso, para trazer mais ação e conflitos para a história, Aranofsky, também roteirista ao lado de Ari Handel, tomou a liberdade de criar mais personagens e situações que, obviamente, não se encontram no texto bíblico. Resumindo, de nada adianta os diversos protestos de religiosos católicos e evangélicos, que ficaram insatisfeitos com a versão cinematográfica. Oras, não se trata daquela série feita para tv estrelada por personagens da Bíblia, e que passou na Record durante um bom tempo. Ao contrário! Trata-se de uma superprodução hollywoodiana, com tudo que se tem direito, da mesma forma que "Os Dez Mandamentos" foi em sua época.

 E como é de se esperar em produções classe A do gênero, o diretor e sua equipe técnica capricharam em todos os detalhes, transformando Noé numa fita luxuosa, e repleta dos mais avançados efeitos especiais. Isso é comprovado, principalmente, na cena do dilúvio, um arrasa quarteirão fantástico que deixa a plateia em estado eufórico. Outro detalhe que chama atenção são os gigantes de pedra, que possuem uma estranha caracterização visual. A princípio parecem ser vilões, mas acabam se simpatizando com Noé e sua turma (imagina que isso estaria na bíblia...). O personagem título, interpretado por Russell Crowe em mais uma caracterização de herói do cinema de ação, acaba desagrando o espectador, no meio da projeção, por conta de uma atitude extremamente fanática e impiedosa. Há um determinado instante em que ele se recusa a salvar uma mulher inocente, que acaba sendo pisoteada pela população (isso também incomoda o espectador que conhece as escrituras).

 Fora Crowe, o elenco ainda conta com Jennifer Connelly (em mais uma parceria com ele, após "Uma Mente Brilhante" e "Um Conto do Destino") no papel da esposa de Noé, aqui batizada como Naameh. Sem dúvida, a melhor atuação do filme; uma grande estrela definitivamente! Anthony Hopkins tem interessante participação como Matusalém, pai de Noé. Há um característico vilão interpretado pelo britânico Ray Winstone (de "Violento e Profano" e "Os Infiltrados"), que causa em determinado momento o efeito contrário do que aquele que sucede com Crowe; ou seja, há instantes em que a plateia se vê torcendo por ele! Por fim, a inglesa Emma Watson demonstra que está mesmo deixando de lado a bruxinha Hermione da série "Harry Potter", tal como já havia demonstrado no interessante "As Vantagens de Ser Invisível". Aqui ela interpreta Ila, uma garota adotada pelo casal, e que posteriormente viria a ser interesse romântico de Sem (o novato Douglas Booth). Ah, claro! Ila também não está na bíblia! Fechando o elenco o popular "Percy Jackson", Logan Lerman, interpreta o outro filho, Cam.

 Enfim, há momentos cansativos também por conta da longa duração, a arca demora muito para ser construída, os animais quase não aparecem e a turma de Noé está sempre correndo de alguém. Porém, isso tudo não estraga a diversão de se assistir a um épico bem produzido, com impecável qualidade técnica. Basta apenas se ter a ciência de que os fatos mostrados na tela estão longe de serem verídicos ou 100% de acordo com as escrituras sagradas. Sabendo disso, explore o espetáculo visual e divirta-se! Abraços!

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