terça-feira, 15 de setembro de 2015

O Pequeno Príncipe

 O famoso clássico literário de Antoine de Saint-Exupéry ganha mais uma nova versão cinematográfica, vinda diretamente da França, e em forma de animação.Quem comanda o espetáculo é o diretor de Kung Fu Panda, Mark Osborne.

 Diferente de outras versões, aqui o roteiro, de Irena Brignull e Bob Persichetti, faz algumas modificações na obra literária, e acrescenta o personagem da "garota", que, na atualidade, mantém contato com o aviador, que conta para ela sobre suas experiências com o pequeno príncipe do título. A menina está sendo preparada pela mãe para ser uma excelente profissional no futuro, e estuda constantemente. No entanto, ela encontra tempo para ouvir e se aventurar com as histórias sobre o príncipe que vivia em um pequeno asteróide com sua amada rosa.

 Todo o encanto e as belas passagens filosóficas e profundas que marcaram a obra de Exupéry estão presentes aqui, fazendo o espectador se emocionar e se envolver com a narrativa. A animação assume duas faces, e se assemelha com diversas produções americanas do gênero em seu aspecto técnico e na caracterização das personagens. A outra face está inserida nas memórias do aviador, ao relatar para a garota o seu encontro no deserto com o pequeno príncipe; a partir de então, a animação ganha uma forma mais rústica e simplificada propositalmente, dando a ideia de uma pintura realizada por uma criança.

 A história, contudo, se arrasta no instante em que a garota e o príncipe (em sua fase adulta) travam um duelo com os executivos, que aprisionaram todas as estrelas. Nesse momento, a ação, repleta de clichês e situações previsíveis, deixam o filme um pouco cansativo. Em todo caso, a grande essência da obra, em suas belas e poéticas frases declamadas pelo simpático personagem-título, trazem muita emoção e simpatia para esse formidável entretenimento. Por isso, torna-se uma boa alternativa, sobretudo para a nova geração que não tem muito conhecimento sobre a obra de Exupéry. Fica a dica. Abraços! 

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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Expresso do Amanhã

 Chega ao cinema com certo atraso essa diferente ficção científica, realizada em 2013, por um bom cineasta da Coreia do Sul, Joon-ho Bong (de "O Hospedeiro" e "Mother - A Busca Pela Verdade"), que também é autor do roteiro ao lado de Kelly Masterson (inspirado em uma graphic novel francesa).

 Num futuro bem próximo (pra ser preciso, em 2031), o mundo todo foi congelado, e as pessoas dizimadas. Os sobreviventes encontram refúgio num quilométrico expresso, que não para de correr sobre trilhos, que ligam praticamente todo o planeta. Nele, há divisões sociais, os mais favorecidos ocupam os lugares mais luxuosos, enquanto os menos favorecidos se encontram amontoados no mesmo vagão, e são praticamente escravizados e com escassez de alimento. Entre os pobres, está o revolucionário Curtis, que almeja acabar com toda a injustiça que ele e seus parceiros sofrem, e organiza um grupo para chegar até o criador do expresso, Wilford, e fazer sua própria justiça. No entanto, para chegar até ele, passará por maus bocados...

 É difícil de entender os motivos que fizeram com que essa talentosa fita (e, certamente, se tornará cult no futuro) tenha recebido pouca repercussão, e até mesmo seu atraso em nossos cinemas é questionável (fora ter sido esnobada no último Oscar). O fato é que o competente diretor brinda o público com uma aventura de ficção científica espetacular, não apenas no cuidado técnico e visual, mas também com um roteiro inteligente, que não poupa em mostrar o descaso social de forma real e crua. Afinal, não seria o expresso uma alegoria sobre o mundo em que vivemos? As desigualdades e os esquemas de corrupção e violência que se vê na tela não são muito diferentes do que acontece hoje em dia em qualquer sociedade do planeta. Bong faz uma variação de diversos gêneros, com destaque para as violentas cenas de luta (bem ao estilo oriental), e mistura um pouco de drama, humor, aventura e até mesmo um momento musical (certamente, o ponto mais surreal de toda a história, que surpreende).

 Num elenco excepcional, o protagonista é o Capitão América Chris Evans, com uma maquiagem que o torna muito distante do galã que impressiona e arranca suspiros do público feminino (ainda assim, ele seria um trunfo para uma propaganda de marketing, com o intuito de arrecadar ingressos, se não houvesse má vontade das distribuidoras). Além dele, o grupo é composto pelo sempre admirável John Hurt (como o mentor do grupo), Octavia Spencer (no papel da mulher guerreira) e Jamie Bell (que faz o rebelde contestador e melhor amigo do personagem de Evans). Ed Harris interpreta o grande vilão, que apenas aparece no fim, mas com grande destaque (faz lembrar o personagem que interpretou em "O Show de Truman", com o Jim Carrey). E o grande destaque, sem sombra de dúvida, vai para a excelente Tilda Swinton, em mais uma perfeita composição bizarra, no papel da ministra Mason; ela está irreconhecível, numa interpretação digna de Oscar. E para encerrar, sem ser menos importante, há uma dupla coreana, que já havia trabalhado com o diretor em "O Hospedeiro", Kang-ho Song e Ah-sung Ko, respectivamente pai e filha, que auxiliam o grupo de militantes liderados por Evans.

 A cada vagão que os heróis penetram, novas surpresas e cenários magníficos invadem à mente do espectador, fazendo o interesse aumentar cada vez mais. O final é satisfatório para uma possibilidade otimista (ainda que remota), e deixa uma janela para uma provável sequência (se de fato isso acontecer, temo que comprometa o bom resultado desse filme). Enfim, um espetáculo que cumpre seu papel no entretenimento, e ainda convida o público para uns momentos de reflexão sobre ética e sociologia. Quem ainda não viu, não perca a oportunidade. Abraços!

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