sábado, 29 de outubro de 2016

O Lar das Crianças Peculiares

 O diretor Tim Burton ficou de fora da sequência de "Alice no País das Maravilhas" (como cineasta), mas encarou essa adaptação literária de Ransom Riggs (adaptada por Jane Goldman), que tem muito em comum com o estilo "peculiar" dele.

 Dessa vez não temos Johnny Depp no filme, mas os elementos do absurdo e do surreal fazem parte dessa narrativa, muito bem fotografada e tecnicamente competente. O garoto Jake, junto com seu pai, parte para uma ilha da Escócia, que era frequentada há muito tempo atrás pelo seu próprio avô quando garoto. Lá, ele descobre um casarão enorme, em ruínas, após ser destruído durante a Segunda Guerra Mundial. O fato é que se trata de um lugar mágico, comandado pela excêntrica Miss Peregrine, e repleto de crianças com suas peculiaridades: há a menina superforte, o garoto invisível, o garoto que tem abelhas na boca... Jake, então, consegue ter acesso a esse lugar, e entra em contato com todos seus habitantes. Miss Peregrine, inclusive, encontrou uma forma do casarão não ser destruído, ao voltar o tempo através de seu relógio, todos os dias, alguns minutos antes do fatídico acidente. Assim, a harmonia prevalece, embora haja alguns vilões que almejam destruir o lar das crianças peculiares.

 Certamente, o sucesso dessa fita é garantido por atrair boa parte do público que frequenta as salas de cinema na atualidade, na verdade fãs de filmes como "Harry Potter" e "Percy Jackson", além dos admiradores do cineasta.  E, realmente, não há ninguém melhor do que Burton para dialogar tão bem com o fantástico e o absurdo. Afinal, além de deixar o visual do filme belíssimo em toda a qualidade técnica da produção, ele consegue, ao mesmo tempo, encantar e divertir através das características de seus personagens, um grande delírio mágico. No entanto, torna-se repetitivo e até mesmo entediante, nas cenas finais em que o óbvio maniqueísmo ganha cena na típica luta travada entre o bem e o mal. Há perseguições bacanas, mas nenhuma delas se torna memorável.

 Mas o elenco ajuda! Eva Green, que já havia feito com Burton "Sombras da Noite" encabeça o time como a excêntrica Miss Peregrine. Embora a francesa Green já tenha 36 anos, e tenha atuado em outros filmes em papéis de destaque, ainda não se tornou a estrela que merece, talvez sua oportunidade comece agora, já que está magnífica no papel. Ao lado dela, o jovem inglês Asa Butterfield (de "O Menino de Pijama Listrado") também não faz feio e esbanja carisma. O elenco de apoio é repleto de nomes famosos como Samuel L. Jackson, que só diz a que veio na metade da projeção, e outros desperdiçados em papéis pouco memoráveis, como Judi Dench, Rupert Everett e Allison Janney. O veterano Terence Stamp tem um prólogo interessante como o avô de Jake. Enfim, independente dos destaques, Burton sabe conduzir bem os atores com quem trabalha.

 Não se pode dizer que este trabalho esteja entre os melhores do diretor de "Edward - Mãos de Tesoura" e "Ed Wood", nem mesmo é melhor que o já mencionado "Alice"; mas, garante o ingresso e dá ao público uma sensação de desejo para se apreciar futuras sequências. Por isso, vale conferir. Abraços!

 TRAILER: