segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Matrix

( EUA 1999 ). Direção: Larry Wachowski, Andy Wachowski. Com Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Carrie-Anne Moss, Hugo Weaving, Joe Pantoliano, Gloria Foster, Marcus Chong, Robert Taylor, Paul Goddard, Julian Arahanga, Matt Doran, Belinda McClory, Ray Anthony Parker. 136 min.


Sinopse: Um jovem analista de sistemas, Neo, descobre que o mundo em que vivemos é, na verdade, uma grande ilusão, conhecida como Matrix. Acaba por descobrir, através da misteriosa Trinity e do astuto Morpheu, que o mundo verdadeiro foi dominado pelas máquinas, e que ele (Neo) é o ser "enviado'' para conter as máquinas, e salvar o mundo.

Comentários: Matrix se consagrou no final dos anos 90 como uma absoluta inovação técnica para o cinema. Os efeitos visuais estão extremamente impecáveis, permitindo ao espectador visualizar cenas fora do comum e criativas. A produção foi indicada a quatro Oscar, e ganhou todos: montagem, efeitos visuais, efeitos sonoros e som. Além de ter alcançado méritos na área técnica e o reconhecimento pela Academia, Matrix colocou no mapa o nome de dois diretores, que são irmãos: Larry e Andy Wachowski (também autores do roteiro), que já vinham feito o pouco conhecido "Ligadas Pelo Desejo", um filme menor. Mas, apesar dos efeitos e dos som serem os grandes responsáveis pelo espetáculo, o filme conta uma interessante história filosófica. Tendo como ponto de referência a "Alegoria da Caverna" de Platão, os irmãos Wachowski mostram a nossa realidade como um sonho, ou seja, algo totalmente em desacordo com o caos que o mundo se tornou, após o controle das máquinas sobre os homens. Elas, as máquinas, construíram a "matrix", e as pessoas que vivem nela são, na verdade, escravizadas naquele mundo de mentiras e estão impedidas de conhecer a verdade; tal como na Caverna do Platão, em que os seres humanos viviam acorrentados nela, desde a infância, sem a possibilidade de conhecer a verdade que existe no exterior dela. E o personagem Neo, vivido por Keanu Reeves (convincente no papel), se compara a um dos homens da Caverna que, como sugere Platão, consegue se libertar dela, descobre a verdadeira realidade e tenta libertar os outros prisioneiros; é o que acontece com o personagem de Reeves, que também consegue se libertar da caverna/matrix. Claro que as conseqüências negativas que o homem da Alegoria da Caverna sofre, não acontecem com o personagem central de Matrix; afinal, de contas, aqui, é um filme hollywoodiano de ação. Em todo caso, assistindo ao filme é impossível não refletirmos, se nós também não estamos presos dentro da Matrix. Será que nossa sociedade consegue conhecer os problemas reais que nós enfrentamos (guerra, violência,miséria...)? Ou será que nos entretemos exageradamente com a cultura de massas, a nossa matrix, enquanto o mundo se dirige ao caos da corrupção e da desigualdade? Bom, concluo que Matrix realmente tem um ótimo roteiro. Além disso, não posso deixar de reconhecer que as seqüências de kung fu e a trajetória das balas de revólver, que Keanu Reeves consegue desviar, são impressionantes e tornaram-se as marcas registradas do filme (foram satirizadas em Todo Mundo em Pânico, As Panteras, Shrek...). Além disso, destaco também as interpretações de Laurence Fishburne como Morpheus, o líder da resistência humana contra as máquinas, e a então estreante Carrie-Anne Moss como Trinity, parceira de Neo. O filme teve duas seqüências filmadas simultaneamente, tecnicamente superiores, mas com roteiros fracos e superficiais.

Por que gravei o filme: Gravei na HBO, e já havia assistido anteriormente no cinema. Matrix, na verdade, é um filme popular, todo mundo conhece e não é novidade para ninguém. É um filme de ficção científica, repleto de cenas de ação. Sem dúvida. É verdade também, que o filme arrecadou zilhões nas bilheterias, e que é prestigiado na maioria das vezes por adolescentes sem cultura, e que gostam apenas de ver pancadaria e violência na tela grande. Acredito que, por conta disso, as pessoas têm preconceito em assistir ao filme. Os mais cultos consideram o filme apenas como mais uma super-produção hollywoodiana de ficção científica. Claro que é uma super-produção, mas não podemos nos esquecer que Matrix tem referências filosóficas interessantes. Antes, poucos filmes haviam trabalhado com a idéia de uma possível associação entre o mundo e a Alegoria da Caverna (há, na verdade, "O Show de Truman" de Peter Weir, que também trata do tema). Portanto, o roteiro do filme também é inovador e curioso, mesmo que seja coadjuvante do show de efeitos especiais. Ambos, efeitos e roteiro, se completam, tornando Matrix uma produção acima da média. É necessário, portanto, as pessoas perderem o preconceito e encararem Matrix como o bom filme que ele é.

domingo, 11 de outubro de 2009

Salve Geral

Em 2006, quando ocorreram os ataques promovidos pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), imaginei que esse fato poderia um dia virar uma produção cinematográfica. Não demorou muito, e o experiente cineasta Sérgio Rezende ("Lamarca", "Zuzu Angel") acabou assumindo a direção desse filme, roteirizado por ele mesmo e também por Patrícia Andrade.

Outro fato curioso é que esse foi o filme brasileiro escolhido para disputar uma vaga ao Oscar 2010, na categoria filme estrangeiro. Entretanto, após assistí-lo, comecei a questionar: por que justamente Salve Geral? Será que este ano foi muito fraco para o cinema nacional?

Vejam bem, o filme não é ruim, e apresenta temática que levanta o interesse de qualquer espectador (não podemos nos esquecer que o povo ainda é preconceituoso com fitas nacionais). A professora de piano, e também formada em direito, Lúcia (Andréa Beltrão) se encontra numa tremenda enrascada, quando seu filho (o estreante Lee Thalor) acaba matando, sem intenção, uma garota num racha. O rapaz vai preso, e sua mãe tenta de tudo para tirá-lo do inferno carcerário. Ela acaba conhecendo, por acaso, a advogada Ruiva (Denise Weinberg), que resolve ajudar Lúcia. Porém, o que professora de piano começa a descobrir aos poucos, é que Ruiva é filiada a um partido de presidiários, que intencionam provocar um grande alvoroço em São Paulo, caso seus desejos não sejam atendidos. Assim, Lúcia acaba se "infiltrando" no partido, levando recados de Ruiva para os presos, com o intuito de conseguir tirar o filho da cadeia. Até que finalmente explode a revolução do partido, em pleno dia das mães.

Mais uma vez, afirmo que a ideia do roteiro é interessante. O problema é que ele acaba se tornado bastante confuso, já que Rezende desenvolve diversas tramas paralelas entre os prisioneiros. Fora isso, as atitudes da protagonista acabam se tornando um tanto bizarras. Por exemplo, fica difícil de entender o que faz com que ela se envolva amorosamente com um dos líderes dos presos (na verdade, um dos possíveis "Marcolas" do filme, já que há pelo menos outros dois que possuem tal perfil). Enfim, mesmo inocentemente, ela acaba se tornando cumplíce da "máfia" dos criminosos, e por isso, fica muito complicado torcer por ela.

Andrea Beltrão foi bastante elogiada no papel da protagonista, mas não gosto muito da atriz em papéis dramáticos. Acho-a muito fria e neutra demais. Na verdade, ela não tem uma grande cena. Por outro lado, quem se destaca é a pouco conhecida Denise Weinberg (da minissérie "Maysa"), no papel da advogada Ruiva. Ela acaba sendo a alma do filme, e rouba as cenas. Os demais atores também atuam bem (Kiko Mascarenhas, Taiguara Nazareth, Eucir de Souza, Chris Couto...).

Em Salve Geral, Rezende fez uma crítica à corrupção policial, ao mostrar algumas parcerias entre bandido e polícia na promoção dos atentados, o que acabou sendo uma atitude corajosa. Aliás, em nenhum momento é citado o nome da facção, "PCC", que sempre é referenciada como o "partido". Mas, honestamente, acho praticamente impossível Salve Geral ser indicado ao Oscar. Os excessos de cenas de ação e os conflitos entre os personagens não irão satisfazer os americanos. Além disso, o tema inspirado em fatos reais, se teve alguma repersussão nos EUA, já caiu no esquecimento, sem dúvida. A conclusão apresenta um não merecido final feliz, e prejudica ainda mais o resultado. Enfim, vale a pena para discutir um momento aterrorizante que São Paulo sofreu recentemente, e pela presença marcante de Denise Weinberg. Mas Rezende já fez melhor. Boa noite!

TRAILER: