sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Extraordinário

 Que tal fechar o ano de 2017 com chave de ouro, assistindo a uma produção leve, singela, delicada, bonita...? A dica é esse Extraordinário, que realmente conquistou a simpatia do público brasileiro. A fita, dirigida e escrita por Stephen Chbosky (o mesmo do interessante "As Vantagens de ser Invisível"), ao lado de Steve Conrad e Jack Thorne (no roteiro), adaptada de livro de R.J. Palacio, é a pedida ideal para fim de ano.

 Quem diria, o país onde, conforme a produção cinematográfica dos anos 70 em diante mostra, evoluiu o termo hoje conhecido como "bullying", faz uma campanha explícita para combatê-lo, o que não deixa de ser uma novidade; afinal, o que se via até então (até em documentários), era no máximo críticas a esse tipo de violência cometida nas escolas ou em qualquer espaço, mas nenuma medida eficaz contra tais abusos. Aqui, felizmente, se vê uma autoridade escolar proibindo essa prática. Mais um fato favorável para o filme!

 Quanto a história, o garoto Auggie nasceu com uma certa deformidade em sua face, e por essa razão, se esconde através de um capacete, e não frequentou a escola; teve aulas em domicílio com a própria mãe. Entretanto, para integrá-lo na sociedade, a mãe resolve matriculá-lo em uma escola, no instante em que iniciará a 5ª série. Esse novo mundo de Auggie, em que conhecerá de frente as maldades humanas através de comentários ofensivos e intolerantes de todos a sua volta, por conta de seu aspecto visual, precisará ser enfrentado por ele com muita determinação. Um ponto favorável é o apoio que ele recebe da família, e as amizades que consegue conquistar aos poucos.

 Claro que há momentos piegas, e alguns clichês que refletem o comportamento da sociedade americana. Todavia, o filme emociona ao deixar no ar a ideia de que os momentos da vida são passageiros, e por isso deve-se aproveitá-los a todo instante, já que o tempo não perdoa. Quando se sai da sala de cinema é bastante comum observar pessoas chorando e soluçando, não por se tratar de uma história triste (spoilers a parte, não há nenhuma tragédia); ao contrário, há até mesmo muito humor através dos diálogos entre os pais de Auggie, e nas imaginações férteis do garoto, fanático por "Star Wars", quando constrói imagens em que visualisa os próprios personagens de sua franquia predileta. Na verdade, a plateia fica comovida por conta da ideia já mencionada que a narrativa passa, da brevidade da vida, de valores desperdiçados pelos seres humanos, da saudade quando se perde um ente querido...

 Sempre deixo pro final as menções sobre o elenco. Bom, Julia Roberts e Owen Wilson são sempre figuras carismáticas, e responsáveis pelos instantes de humor, como os pais de Auggie. Mas, no fim das contas, ambos tem pouco a fazer, numa história protagonizadas pelas crianças. Aliás, não é apenas o ponto de vista de Auggie que é o foco; a narrativa dá espaço também para a irmã mais velha Via, a melhor amiga dela Miranda, e um novo amigo que Auggie faz, Jack Will. Todos os intérpretes são fantásticos. Dizer algo sobre Jacob Trembley, o Auggie, é desnecessário. Afinal, o astro de "O Quarto de Jack"é cativante como se pôde observar no filme citado, e aqui extrapola ainda mais, atingindo o coração da plateia. Os amigos dos irmãos, Noah Jupe e Danielle Rose Russell, também demonstram muita ternura. Mas é mesmo a garota Izabela Vidovic (a filha de Jason Statham em "Linha de Frente") como a irmã de Auggie, que mais me comoveu, sobretudo no momento em que se lembra de sua bondosa avó, aliás, uma participação bacana de nossa Sônia Braga. Por fim, o veterano Mandy Patinkin interpreta o diretor de escola mais humano e simpático que não se vê costumeiramente nas telas.

 Extraordinário, portanto, é uma bela produção cinematográfica que traz simples questões sobre a vida que fazem o espectador refletir durante a projeção. Torno a dizer: é piegas, e muitas vezes previsível, mas se consegue arrancar algum sentimento exposto do público, então tem seu valor. Admito, eu chorei. E fica uma entre tantas mensagens: "Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil". Feliz 2018!

TRAILER:

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