quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Vidro

 Eu já tinha perdido a esperança no cineasta M. Night Schyamalan, que surgiu bastante promissor com o aterrorizante "O Sexto Sentido", em 1999. Contudo, a sucessão de filmes ruins, sobretudo os de ficção científica, demonstravam uma infeliz decadência, inclusive na história, já que ele é roteirista de seus filmes, como também acontece aqui em "Vidro". Mas ele voltou com tudo em 2016 com "Fragmentado", e felizmente seu novo filme não decepciona.

 Falando em Fragmanetado esse Vidro é uma sequência desse e também de um outro filme que ele fez lá atrás, "Corpo Fechado", em 2000. A ideia de ligar todos esses filmes demonstra que Schyamalan tem excelente criatividade, pois entrelaçar todas essas histórias não parece algo fácil; e ele conseguiu com maestria.

 Para quem não lembra de Corpo Fechado (ou para quem não viu), o protagonista David Dunn, que era segurança, tem o dom de sentir o "caráter" das pessoas com um simples toque. No passado, ele foi o único sobrevivente num acidente ferroviário, e isso causou espanto, já que não havia chances de alguém sobreviver; e como ele saiu ileso, seu filho concluiu que ele só poderia ser um super-herói. No presente ele e o filho (agora adulto) trabalham na caça de um perigoso serial killer, que possui 24 personalidades, e que sequestrou um grupo de garotas. Quando Dunn o localiza, com a personalidade da Fera (visto em Fragmentado), o duelo de titãs é interrompido pela polícia, que os deixam sobre o controle da psicóloga Ellie Staple, que tenta convencê-los de que são homens comuns. Aí entra outro personagem de Corpo Fechado, Elijah Price, debilitado e em cadeira de rodas (o oposto de Dunn, representando a extrema fraqueza), que também passa pelo tratamento da doutora. Entretanto, todos eles juntos, no mesmo espaço, fazem surgir ideias perigosas.

 A trama pode parecer complexa, mas faz uma leitura bacana sobre o mito do super-herói, destacando suas habilidades, mas também os pontos fracos. A expectativa de suspense, de que algo inusitado e surpreendente vai acontecer em cena, acompanha constantemente o espectador. E, de fato, há boas reviravoltas em uma conclusão eficiente, que faz lembrar um pouco os filmes da franquia "X-Men".

 O elenco conta com três astros em forma, James McAvoy comprovando ser um dos grandes atores de sua geração, ao reviver as 24 personalidades em um corpo só (embora a maioria seja "figurante"), com uma expressão aterrorizante e demoníaca; Bruce Willis não faz feio, embora conserve o irritante biquinho ao interpretar mais uma vez David Dunn; e o melhor do elenco, Samuel L. Jackson, em uma entrada triunfal e enigmática, além de responsável pelos momentos de grande tensão, como Elijah Price, o "vidro" do título. Há também a excelente Sarah Paulson (de "12 Anos de Escravidão" e da série "American Horror Story") como a psicóloga, e a sobrevivente de Fragmentado, Anya Taylor-Joy (na verdade não faz muito sentido o retorno dela, mas não deixa de ser um ponto importante na conclusão). Juntam-se a eles outros atores de Corpo Fechado: Spencer Treat Clark, o filho de Bruce Willis, e Charlayne Woodard, como a mãe de Samuel L. Jackson (curiosamente, ela é cinco anos mais nova que ele na vida real!).

 Enfim, um eletrizante suspense, que requer paciência e concentração para se deliciar e se envolver com uma trama muito bem escrita e conduzida por Schyamalan, que agora parece ter recuperado a mão cheia. Abraços!

TRAILER:

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