quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Laranja Mecânica

( Inglaterra 1971 ). Direção: Stanley Kubrick. Com Malcolm MacDowell, Patrick Magee, Adrienne Corri, Miriam Karlin, Michael Bates, Philip Stone, Sheila Raynor, Warren Clarke, Anthony Sharp. 135 min.


Sinopse: Num futuro indeterminado, jovens violentos causam o caos em todo mundo, espancando mendigos e idosos, e estuprando garotas indefesas. Um deles, Alex, é capturado pela polícia e passa por um processo de lavagem cerebral, financiado pelo governo, com o intuito de diminuir a violência.

Comentários: Um dos filmes mais provocadores e impressionantes de todos os tempos, Laranja Mecânica recebeu quatro indicações no Oscar: filme, diretor, roteiro adaptado (do próprio Kubrick, através do romance de Anthony Burgess) e edição, mas acabou não levando nenhuma estatueta. O inovador Kubrick, assim como já havia feito com o extraordinário "2001 - Uma Odisséia no Espaço", utilizou cenários futuristas diferentes e exóticos, na construção dos cômodos e móveis das casas dos personagens, e do bar que serve como point para os protagonistas do filme. Enfim, umas arquiteturas surpreendentes, jamais vistas antes (exceto em 2001), e mereciam, ao menos, ser lembradas pelo Oscar na categoria direção de arte. Quanto ao roteiro adaptado pelo próprio genial Kubrick, é perturbador e resiste a debates e discussões nos dias de hoje. A sociedade apresentada pelo cineasta é controlada pela violência promovida por grupo de delinqüentes juvenis, que passa o tempo tomando leite nos bares (!), duelando com grupos rivais, torturando anciãos e estuprando mulheres. Tal cotidiano é mostrado de uma forma comum e natural, e estes jovens parecem ter o domínio de todos. Quando o líder deles (interpretado de uma forma caricata e amalucada, mas convincente por Malcolm McDowell) é capturado pela polícia, passa a servir como "cobaia" para testes de cientistas que têm o objetivo de reduzir a violência. Enfm, o personagem passa por um processo de lavagem cerebral, e começa a sentir náusea e aversão ao sexo e à violência. A partir de então, Kubrick faz uma crítica ao estado opressivo e ditador, que extermina a liberdade do ser humano, e o condiciona a uma laranja mecânica, ou seja, coloca o homem como alguém que não reflete, e age de acordo com a vontade de quem tem o poder (no caso, o governo). Por outro lado, tal lavagem cerebral surge para acabar com o caos e a desordem provocados pelos jovens. Afinal, aceitar a liberdade do cidadão em estuprar e espancar o outro, é o mesmo que ser conveniente com tudo aquilo que fere os direitos humanos. Em contrapartida, a livre expressão de pensamento também é um direito humano, e se violada (mesmo se por um bom motivo) contribui para a o estado de manipulação sofrido pelo homem. Enfim, Kubrick apresenta uma faca de dois gumes mostrando duas situações imorais e ausentes dos padrões éticos para a vida. E o que se deve fazer: acabar com a violência, ainda que de uma forma ilegal, ou defender a liberdade, e permitir que o caos continue existindo na sociedade? Uma questão que exige muita reflexão, mesmo porque a manipulação mental e a violência pesistem em nossos dias. O filme apresenta belas canções, desde a nona sinfonia de Beethoven (que tem grande importância na história) até o clássico cantado por Gene Kelly em "Cantando na Chuva". McDowell tem um ar de cínico e constrói um personagem irritantemente antipático ( muitas vezes, sentimos vontade de entrarmos em cena e estraçalhá-lo). O final é arrebatador e irônico, além de dúbio. Finalmente, chegamos a conclusão de que o bem venceu... e o mal também. Definitivamente, Laranja Mecânica é uma obra-prima do cinema.

Por que gravei o filme: Tudo o que foi dito acima despensa maiores comentários. Laranja Mecânica, afinal, precisa ser analisdo, discutido e debatido constantemente; é um filme obrigatório. Descobri tudo isso depois que o gravei no Cinemax, já que antes nunca o havia assistido, embora conhecesse o filme. Já o utilizei em sala de aula na minha disciplina, filosofia. Lembro que eu precisei gravar o filme em DVD, já que o vídeo da escola não funcionava. Todavia, os excessos de violência (sobretudo sexual) desagradam bastante o público que não está habituado aos filmes de Kubrick. Por isso, não tive uma boa recepção quando tentei exibi-lo em uma sala de suplência. Ainda assim, acredito ser importante a divulgação dele, e pretendo encontrar alguma estratégia para exibí-lo novamente. Sem mais.

download: http://uploaded.net/file/qhs9gc8c

Um comentário:

Rafel Saitar disse...

Até que enfim, hein, peão. Gostei da sua crítica. Bem madura e delineada. Não vi esse filme e, pela temática, creio que não vá ver. ¬¬

Duas ou três coisas que, ao meu ver, devem melhorar a estética do post e do blog. Primeiro, dê uma linha entre cada parte da crítica. Segudo, o título do filme já está no título do post, então creio que não há necessidade de repeti-lo, a não ser que seja uma exigência do gênero "crítica". Terceiro, você esqueceu de colocar um marcador para esse post...

Gostei de ver esse começo. Na próxima eu comento novamente.

Abração