sábado, 30 de maio de 2009

José Manoel de Seixas (05/10/1945 - 25/05/2009)

O cinema, muitas vezes, adapta a realidade dura da vida para as telas e apresenta situações trágicas e comuns no nosso dia-a-dia. Temas como a violência, a desigualdade social, o abandono, a morte já foram adaptados com muita seriedade por diversos cineastas de todos os lugares do mundo. Apesar de tanto realismo, quem morre nas telas não é o ator, e sim a personagem. Ou seja, não temos uma segunda chance na vida real.

José Manoel de Seixas, meu pai, era uma personagem real que não terá outra oportunidade na vida. Em dezembro de 2003, ele teve um derrame que quase o matou. No entanto, ele sobreviveu e eu passei a acreditar no ditado "há males que vem pra bem". Antes do derrame, eu não tinha um bom relacionamento com o meu pai. Éramos um tanto distantes, em decorrência da minha rebeldia juvenil, que perdurou após a adolescência. Em contrapartida, meu pai também não era carinhoso ao extremo com a família, e era um homem de poucas palavras. Ainda assim, era um homem honesto, trabalhador, responsável...; e apesar de suas qualidades negativas, nunca duvidei de seu amor para com a família.

Com o derrame, tenho certeza que meu pai sofreu muito. Afinal, não deve ser fácil para uma pessoa ágil, que já trabalhou em diversos setores (supervisor da Invicta, taxista, atendente de loja...), que acostumava acordar cedo todos os dias (até nos domingos) perder o movimento do lado direito do corpo e a fala. Apesar disso, as sequelas de seu estado físico trouxeram boas consequências: a família ficou mais unida, e ele pôde perceber o quanto era amado e querido por todos nós (inclusive por mim). Afinal, era muito mais fácil se aproximar dele nessas condições, do que anteriormente.

Enfim, o tempo passou, meu pai teve diversas convulsões, mas sempre voltava ao normal. Mas, uma delas foi de uma fatalidade tamanha, que quase o levou dessa vida no dia do meu casamento. Felizmente, Deus não permitiu a ocorrência dessa tragédia, e ele sobreviveu. Mas têm horas que o corpo enfraquece de vez, e o surgimento da morte é inevitável. Assim, ele se foi. Seu corpo foi aliviado, pois finalmente o sofrimento acabara; para a família, restou a saudade e a tristeza.

Se "corta" fosse a palavra que tivesse surgido após esse relato, meu pai seria um ator, e, certamente, estaria recebendo alguma advertência do diretor do filme. Assim, eu teria tempo de levantar-me da minha poltrona, poderia correr até ele para lhe dar um abraço, e dizer com toda a certeza: EU TE AMO! Não me lembro de ter dito essas palavras para o meu pai alguma vez na vida, mas ele teve tempo o suficiente para perceber que eu o amava. O que me entristece, entretanto, é o fato d´ele ter partido sem a minha despedida. Nos seus últimos momentos de vida, eu fui o único filho que ele não teve a possibilidade de observar em sua volta...

Bom... não sei mais o que dizer. A vida continua, amo demais as pessoas que eu amo, preciso voltar para a minha rotina, sinto um grande desespero por estar afastado da minha função profissional... Não sei lidar com a morte, não imagino o quanto ainda irá durar a minha angústia (nem a da minha mãe e dos meus irmãos), mas sei que não posso enfraquecer. O meu maior consolo, por fim, seria a certeza de que essas palavras (repletas de clichês, tudo bem!) pudessem ter sido lidas por meu pai. Infelizmente, é tarde demais. Mas que fique registrado, meu pai: EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO... Não consigo mais escrever. Até...

2 comentários:

Leandro Souza disse...

Amado amigo.

Separar-se de quem amamos é algo indescritível muito dolorido. Somente A Força Mística e Onipresente para nos dar ânimo e coragem para seguir em frente.
Amigo, emocionei-me ao ler este texto - meus olhos aguaram-se.
Se Deus quiser, tudo passará, vocês superarão essa dor no coração.
Paz em seu espírito e tépidos sorrisos em seus dias.
Abraços,
De seu grande amigo.

Gladys POIE disse...

Muito comovente seu texto sobre seu pai, para mim pai e mãe são como partes do nosso corpo, se perdemos alguma delas sentimos muito e teremos que aprender a viver sem elas. Mas infelizmente, a morte faz parte da vida. Ouvi uma frase uma vez que me marcou muito: " A vida é como uma festa, entramos sem ser convidado e saímos antes de ter terminado"
Um abraço...